O microrganismo solubiliza o fósforo presente no solo, permitindo que esse mineral possa ser absorvido facilmente pela planta. Como consequência, a soja cresce mais rápido e o produtor pode economizar na aplicação desse nutriente. Além da economia ao produtor, seu uso reduz riscos de carreamento do fósforo para corpos d’água, proporcionando sustentabilidade à produção. A descoberta pode dar origem a um biofertilizante, em formato de inoculante, para importantes culturas agrícolas. Os bioinoculantes de Trichoderma são formulados à base de estruturas do fungo, geralmente por esporos. Sua aplicação é por meio do tratamento de sementes ou diretamente aplicado ao solo. São utilizados em diversas culturas de importancia econômica, beneficiando a germinação e o crescimento inicial das plantas.
O uso crescente de fertilizantes minerais tem contribuído para reduzir a saúde do solo, causando contaminação. Assim, os biofertilizantes à base de microrganismos benéficos podem anular esses problemas, e também reduzir os custos de produção.
O produto à base do fungo Trichoderma pode ser aplicado em diferentes culturas agrícolas, desde hortaliças a grandes culturas como soja, milho e feijão. Além do mais, tem o potencial extraordinário de colonizar o sistema radicular e a rizosfera, requisito básico para que o microrganismo se estabeleça e promova o crescimento das plantas, aumentando o suprimento de fósforo.
Para futuro produtos, a escolha da tecnologia de aplicação do fungo dependerá do desenvolvimento de formulações. Nesse caso, ainda não dispomos de uma formulação padronizada“, explica o pesquisador da Embrapa Itamar Melo.
Plantas de soja inoculadas com linhagens selecionadas de Trichoderma foram cultivadas no solo com fosfato de rocha e superfosfato triplo. Os pesquisadores observaram um aumento de mais de 40% na biomassa das plantas inoculadas com o microrganismo. E a eficiência da absorção de fósforo pelas plantas foi elevada em até 141% em comparação ao grupo que não contou com o Trichoderma sp.
A bióloga Laura Bononi, que utilizou a pesquisa em seu doutorado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), revela que o fungo foi capaz de produz diferentes ácidos orgânicos durante o processo. “Esses ácidos são importantes para liberar o fósforo retido em óxidos de ferro e alumínio, ou seja, de converter o fosfato presente no ambiente em fosfatos di ou monobásicos, que estão prontamente disponíveis para a absorção”, conta a bióloga, que foi orientada por Melo.
O fósforo exerce funções vitais em todas as fases do desenvolvimento das plantas e sua deficiência pode reduzir o crescimento e a produtividade de muitas culturas agrícolas. Solos ácidos, bastante comuns no Brasil, retêm rapidamente esse mineral aplicado como fertilizante e não o deixam disponível para as plantas. “O uso de microrganismos solubilizadores de fosfato é uma estratégia sustentável e promissora para gerenciar essa deficiência em solos agrícolas”, afirma Melo, ressaltando que essa tecnologia permite aproveitar o uso de diferentes tipos de fosfatos de rochas oriundos de minas brasileiras. Atualmente, esses fosfatos são pouco aplicados como fertilizantes, o que faz o País importar esse insumo.
O cientista explica que o nitrogênio e o fósforo são os nutrientes que mais limitam a produção agrícola e são essenciais no desenvolvimento inicial das plantas. Porém, os solos brasileiros possuem, naturalmente, baixa quantidade desse elemento, o que exige aplicações de fosfato em grandes quantidades. O fósforo está associado a três processos bioquímicos fundamentais: produção de energia, respiração e fotossíntese. Ele também participa de processos enzimáticos e compõem estruturas das células vegetais, como os ácidos nucléicos e as membranas celulares.
Embora exista uma grande quantidade de fósforo no solo, sua baixa disponibilidade para as plantas é um dos principais obstáculos à produtividade agrícola. As lavouras só conseguem absorver entre 10% e 40% do total do mineral aplicado ao solo. Esse fenômeno é devido a um alto grau de reatividade que ocorre entre o fósforo e os constituintes do solo, causando a fixação do mineral ou a sua precipitação com as partículas do solo, tornando-o indisponível para a absorção das plantas. Milho, soja e cana-de-açúcar são as culturas que recebem a maior parte dos fertilizantes fosfatados empregados no Brasil.
Além da vasta biodiversidade vegetal e animal, a Floresta Amazônica também abriga uma vasta diversidade microbiológica. Os fungos, em especial, participam do constante processo de degradação da biomassa gerada no bioma, o que faz da Amazônia uma fonte valiosa de bioprospecção desses microrganismos e de produtos gerados por eles.
A aplicação de microrganismos como biofertilizantes é uma abordagem promissora para auxiliar na produção agrícola. Essas aplicações contribuíram para o crescimento de várias espécies de culturas, aumentaram a biomassa das plantas e o conteúdo total de fósforo e participaram da ciclagem de fósforo sem afetar o meio ambiente. No ano passado, o Brasil lançou seu primeiro inoculante voltado a solubilizar o fósforo. Fruto de parceria entre Embrapa e a empresa Bioma, o BiomaPhos resulta da ação de duas bactérias e é voltado à cultura do milho.
Os solos agrícolas e de pastagem são compostos por comunidades maiores desses microrganismos envolvidos na disponibilidade de fósforo. Eles são essenciais para fornecer o nutriente que é retido no solo para as plantas por meio dos processos de mineralização e solubilização. Os fungos têm vantagem sobre as bactérias pois conseguem manter um agregado no solo proporcionado pelo crescimento de suas hifas (filamentos). Dessa forma, ele auxilia a planta na aquisição de nutrientes, água e protege do ataque de fitopatógenos.
Cristina Tordin (MTb 28.499/SP)
Embrapa Meio Ambiente | meio-ambiente.imprensa@embrapa.br
Lebna Landgraf (MTb 2903/PR)
Embrapa Soja | soja.imprensa@embrapa.br
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Por Rob ten Doeschate
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