No Brasil, a chamada Pecuária 4.0 já é realidade e contribui para uma produção mais sustentável, ou seja, que cause menos impacto ao meio ambiente, que favoreça a vida de pessoas envolvidas com a cadeia produtiva e que garanta rentabilidade ao homem do campo.
A conectividade no campo não é cena de futuro. Chips eletrônicos, bebedouros e comedouros automáticos, colares de couro com sensores, antenas, drones, termografia infravermelha e estações meteorológicas automáticas são alguns dos equipamentos conectados que transmitem dados para a pesquisa realizada na Embrapa Pecuária Sudeste, situada em São Carlos (SP).
‘Carteira de identidade’
O país já tem como rastrear a carne que chega ao seu prato para saber de que propriedade ela saiu. Para isso, um sistema de rastreabilidade é abastecido com dados de brincos eletrônicos nos bois, uma espécie de RG, que identifica cada animal. A leitura desse chip pode ser feita à distância, desde que a propriedade tenha instalações para transmissão de dados.
Na tela do tablet ou do computador aparece tudo em tempo real: idade do animal, vacinas e medicamentos que ele recebeu, se já gerou bezerros, quem foram seus pais, tipo de alimentação que recebeu… enfim, todas as informações relevantes para acompanhar, do campo à prateleira, a história daquela carne. Os dados são armazenados em nuvens e podem ser acessados de qualquer ponto do planeta.
A outra arroba
Já ouviu falar em arroba? Não aquela do seu e-mail (@), mas a unidade que se usa para pesar o gado… Na pecuária, saber quanto pesa o animal é uma referência importante. Nas fazendas modernas, a pesagem é feita de forma automatizada. Já pensou se o pecuarista tivesse que colocar cada boi manualmente numa balança todo dia para saber se ele está ganhando peso ou emagrecendo?
O simples deslocamento do animal do campo para o centro de manejo gera estresse, o que faz com que o animal perca peso. “A conectividade também contribui para o bem-estar animal, já que reduz o estresse”, diz o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Pecuária Sudeste, Alexandre Berndt.
Muito além da pesagem
Todo o aparato tecnológico disponível na Embrapa, em São Carlos, ajuda a monitorar o rebanho, não apenas em relação ao peso. Ali existem experimentos que comparam as condições do gado na sombra e a pleno sol, por exemplo, utilizando termografia infravermelha.
Por que isso é importante? A resposta é: bem-estar animal.
O uso de tecnologia e equipamentos conectados que transmitem dados para a pesquisa permite saber se o animal está em ócio, ruminando ou se deslocando e cada uma dessas atividades significa um tipo de comportamento. O monitoramento permite antecipar decisões e garantir a produtividade do rebanho. É como conhecer a “bio” de cada animal.
E o tal efeito estufa?
No campo experimental da Embrapa Pecuária Sudeste, estudos monitoram a quantidade de gás metano emitida pelos bois. E como se mede o gás se ele é transparente?
Um equipamento que mede as emissões individuais de gases de efeito estufa foi instalado no local onde o animal se alimenta em sistema de confinamento. Cada vez que o animal vai comer, sensores identificam e medem essas emissões em tempo real, gerando um conjunto de dados representativo”, explica Alexandre Berndt.
Essas informações são interpretadas e avaliadas por cientistas. Eles observaram que apenas 0,96% das emissões de gases de efeito estufa no mundo é proveniente das atividades agropecuárias do Brasil. Esse dado foi obtido a partir de levantamentos de emissões que constam no 5º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, também conhecido como 5º Relatório do IPCC.
Comida e água sob controle
No Brasil, a maioria da pecuária é aquela chamada “a pasto”, ou seja, os animais ficam soltos em uma área cercada, se alimentando de capim.
Geralmente bebem água de bebedouros instalados nas propriedades. A conectividade da pecuária 4.0 permite saber quanto cada animal consome de água.
Essa informação é relacionada a outros aspectos produtivos como nutrição, genética, sanidade e bem-estar animal, o que leva a uma atividade produtiva mais equilibrada. A gestão hídrica é importante para estabelecer referenciais produtivos e ambientais.
Você já ouviu falar que são necessários 15 mil litros de água para produzir 1 kg de carne? Será que essa informação é real e vale para todos os países?
A Embrapa Pecuária Sudeste é a única instituição de pesquisa do Brasil que tem como uma de suas linhas temáticas o manejo hídrico quantitativo e qualitativo da produção de bovinos. O centro pesquisa o cálculo da pegada hídrica para produzir carne bovina no Brasil. Para isso faz uso de sensores e equipamentos modernos.
Até o momento já elaborou recomendações importantes que reduzem a quantidade de água necessária para produzir carne e leite, colaborando com as políticas de segurança hídrica do nosso país.
Toda a conectividade da Pecuária 4.0 citada aqui está sendo utilizada pela pesquisa agropecuária em São Carlos, com reflexos para a produção de carne, leite, couro e outros subprodutos em todo o país. Se o Brasil já tem tanta tecnologia embarcada nas chamadas fazendas inteligentes de hoje é possível imaginar como será a fazenda do futuro?
Embrapa Pecuária Sudeste – Foto Abre: Alexandre Rossetto Garcia
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